Cercado de queixas, próximo das soluções
EDILAINE FELIX
Lidar com queixas é parte do dia a dia de muitos trabalhadores. Não é diferente para os síndicos. “Reclamar é inerente ao ser humano. Nunca fui chamada de ladra, mas já fui tachada de autoritária”, diz a psicóloga Maria das Graças Amaral de Mello, de 49 anos. Ela é síndica – e moradora desde a infância – de um edifício inaugurado em 1956 pelo construtor João Artacho Jurado.
Maria das Graças divide a tarefa de gestora moradora com a de síndica profissional de um outro condomínio no bairro de Higienópolis e admite que a tarefa é mais árdua em seu edifício. “No condomínio que sou síndica profissional, há mais neutralidade. Não fico lá 24 horas. Eu delego tarefas, marco reuniões e assembleias. Há mais imparcialidade”, diz.
Ser responsável por um condomínio com valor arquitetônico dá um pouco mais de trabalho, segundo a psicóloga. Ela tem um conselho de obras composto por três arquitetos moradores para que as intervenções e modernizações realizadas não interfiram nos padrões da construção original.
“Preciso ser mais criteriosa nas decisões e certamente isso causa insatisfação”, diz. Ela conta que tenta ser flexível, que aprendeu a ouvir, mas que precisa estabelecer regras e prioriza sempre a segurança do edifício e dos moradores do residencial.
“Foi necessário automatizar o portão do prédio e, depois da obra, recebi reclamações de alguns moradores em relação a arquitetura e engenharia da obra, mas eu não poderia ceder, uma vez que esse era um ponto importante para a segurança do condomínio. Nesse momento, as pessoas mostram insatisfação com o síndico, pois a vontade delas não foi atendida”, diz.
A psicóloga diz ser bastante cuidadosa nas decisões e admite que a sua profissão é uma aliada no relacionamento com os moradores. É importante, diz ela, manter a calma para não causar indisposições. “Cada um, por um motivo, vai ficar insatisfeito com o síndico. É preciso ser paciente e flexível.”
Perfil. De acordo com o gerente de condomínios da Auxiliadora Predial, Julio Herold, o síndico tem autonomia para tomar atitudes no prédio, mas não deve ser autoritário ou privilegiar um grupo. “Ele não pode entrar em confronto com os moradores, deve conversar sempre.”
Herold destaca que a insatisfação com o síndico pode ser baseada tanto em problemas menores, ligados a advertências e ações de cobrança, até questões mais graves relacionadas à prestação de contas do prédio.
No entanto, em qualquer caso, a recomendação é ser claro nas informações. “O síndico deve tentar resolver e nunca levar para o lado pessoal, tampouco misturar suas preferências com as necessidades do condomínio”, alerta Herold.
Quando as queixas chegam à administradora – caso comum, de acordo com o especialista –, é preciso orientar o síndico a lidar com a situação. As reclamações mais usuais encaminhadas às empresas, segundo Herold, relacionam-se a autoritarismo e a demissões de funcionários antigos. “O síndico é contratado para resolver todas as questões do condomínio e deve saber resolver as indisposições.”
Portas abertas. Para o síndico profissional, Renato Daniel Tichauer, vice-presidente da Associação dos Síndicos dos Condomínios Comerciais e Residenciais do Estado de São Paulo (Assosindicos), o cargo exige transparência e principalmente paciência.
“Não basta ser honesto, tem de parecer e comprovar que é honesto, compartilhar com os o conselho o que vem sendo feito”, diz. Segundo ele, ter clareza nas ações, não impedirá a insatisfação, mas ajudará na resolução de um possível problema.
O diretor da administradora Manager, Marcelo Mahtuk, ressalta que, quando há problemas, a administradora deve estar de portas abertas para ouvir. “Toda insatisfação com o síndico deve ser tratada antes dos extremos, como o pedido de destituição.” Ele salienta que todos, usuários e corpo diretivo, devem ser ouvidos para a análise dos fundamentos da queixa.
Para Mahtuk, é preciso destacar que a insatisfação é, muitas vezes, reflexo de atitudes egocêntricas e autoritárias e de vaidades de moradores e gestores. “A solução é não deixar quebrar a unidade e, por outro lado, seguir a convenção.”
O Estadão - 16/06/2014